Sobre 'Contra tempos'... e Recomeços

Olá, pessoal! Como estão vocês?


Eu sei, eu sei o que estão pensando: Como ele tem coragem? A pessoa abandonou completamente o seu blog pessoal - um blog para falar sobre os livros que ELE MESMO ESCREVE - por quase dois anos seguidos... E volta como se nada tivesse acontecido... Que cara de pau, bicho!

Então... É sobre isto mesmo que eu vim falar. 

Como puderam perceber, eu sumi. Não postei nada por aqui, não surgiu nenhuma história nova na Amazon, e eu nem comentei no Twitter que estava escrevendo. Para ser sincero, não acho que nada disto tenha sido por acaso... Mas também não foi planejado. Apesar dos pesares, este meu afastamento de mim mesmo como 'autor' foi necessário. Pois de lá para cá, muita coisa mudou na minha cabeça, na minha visão do mundo, e - querendo eu ou não - isto acabaria refletindo sobre o que escrevo. Pois, sim, a vida aconteceu para mim, ao longo destes últimos dois anos. E isto foi maravilhoso, e assustador - tudo ao mesmo tempo.

De 2015 para cá, precisei cuidar da minha saúde mental. É meio engraçado, pois acreditava que estava ótimo... Me consultar com um psicólogo? Imagina! Mas isto não poderia ser o mais longe possível da verdade. Graças à minha mãe, fui ao médico e descobri que estava desenvolvendo TOC por 'n' motivos. Coisas que eu guardava para mim, coisas que eu não tinha coragem de dizer, coisas que estavam ferrando a minha cabeça e matando quem eu era de verdade. 

Com muita sorte, o grau do meu transtorno ainda era (e continua sendo) baixo, então eu poderia lidar com isto através de recursos um pouco mais simples (mas nem por isso mais fáceis). A cada nova consulta, algo novo (e que sempre estava ali) surgia para mim, novidades que o Henri de três anos atrás nunca teria coragem (ou mesmo vontade) para confrontar, e isto foi transformando de forma definitiva a pessoa quem sou e mudando a minha visão de mundo.

Obviamente, toda esta mudança iria refletir naquilo que escrevo. E, batendo a real aqui com vocês, eu vou confessar: Não estava 100% feliz com as histórias que eu estava produzindo.


Não, eu não vim aqui para falar que tudo o que já tinha feito era um lixo e que agora o meu objetivo será em me transfigurar no próximo Machado de Assis. Pelo amor de Deus, não! Eu sou completamente apaixonado por literatura jovem. Está no meu sangue! Mas... Tendo uma visão mais crítica sobre o que eu colocava no papel, as minhas ideias não estavam saindo do jeito que eu queria e nem se conectavam com os meus pensamentos. O problema não estava nos livros de entretenimento, e sim na minha própria voz.

Por isso, o hiato aconteceu.

Ao longo dos últimos meses, venho tentado aprimorar a minha voz - mas ainda usando a minha narrativa. Esquisito, eu sei. Mas na minha cabeça, era uma ideia que fazia sentido e se fazia necessária. Por isso, se você der um breve passeio neste blog, vai poder perceber que algumas coisas por aqui não são mais como eram antes. 

Para começar, a primeira grande mudança aconteceu com Terra das Sombras. De uma forma bem inconsciente, eu sabia que precisava mexer em toda a estrutura da série - pois o meu eu atual é o mais distante possível do meu eu de 17 anos, quando comecei a escrever a história. Mesmo assim, sempre tive um carinho imenso por todo o universo e pelos personagens que me acompanharam por tanto tempo - e no fundo eu sabia que estava estava desperdiçando todo o potencial que estas histórias poderiam ter, e o quão mais originais elas poderiam ficar. Por isso, respirei fundo, retirei tanto a antologia Mundos Secretos quanto os dois volumes já publicados na Amazon, e decidi recomeçar do zero.


Ok, isto foi meio dramático. Eu não comecei exatamente do zero. Mas dei uma boa limpada na bagunça que estava e fui pondo cada coisa em seu lugar. Voltar a mexer em O Guardião e O Inimigo me fez ver como vários personagens tinham coisas para contar, e eu simplesmente ignorava. Tanta coisa que é alinhada com o que eu penso agora poderia estar ali, em cada história, e se eu não tivesse coagem para parar, reanalisar e ver que cabia toda uma reestruturação, isto tudo iria se perder dentro da minha cabeça...

Então, eu decidi apresentar novamente este mundo aos leitores. E por essa razão criei uma série antológica spin-off  para só então - no final - entregar a versão reescrita da história de Adrian, Serina, Líon e Oliver.

Em parte, dar algumas histórias para Angelina Regis parecia um caminho natural. Ela sempre foi uma personagem que se destacou, e acompanhar a sua vida um pouco antes de tudo acontecer era uma expansão de universo óbvia. Aqui eu tive a oportunidade de mesclar o mundo celestial que eu criava ao incrível folclore brasileiro, e ver o quão rico esta junção conseguiu ser ao dar não somente mais contexto para a ambientação que eu queria como também me deixou extremamente satisfeito. Mas isto não era tudo. Ao pegar a garota e criar todo um arco através dos olhos dela e de seus amigos (antes mesmo de oferecer as duas partes da trama principal), tive a oportunidade de falar e debater sobre assuntos que me são muito importantes - como o racismo presente em "O Demônio do Natal", ou mesmo o relacionamento abusivo na nova versão de "Dança Macabra".

Então... Me desculpem por fazê-los esperar mais um pouco pela conclusão da trama. Mas eu prometo que esta nova viagem pode ser tão ou mesmo mais divertida quanto a versão que a originou.


E isto nos leva a Regras da Atração e A Garota. Ao contrário das minhas fantasias urbanas, as minhas histórias contemporâneas continuaram à venda... Em tese, posso dizer que - por ter escrito elas mais velho do que Terra das Sombras - a minha visão sobre cada uma é bem mais próxima do meu eu atual. Mas, não foi só isto. Quando eu escrevi o bullying e a misoginia em Replay, ou mesmo sobre as caricaturas sociais em Sonho Adolescente, eu já tinha na minha cabeça a sementinha de que as minhas narrativas precisavam ser mais do que a minha forma de escapismo. Eu, naquele momento, já queria que os meus personagens trouxessem um pouco de mim mesmo, e do que eu penso, e de como suas vidas poderiam ser um reflexo do meu crescimento pessoal - mesmo que a grande maioria não se pareça nada comigo. Histórias que reflitam a nossa realidade, e as nossas vivências, sem tentar emular o que faz sucesso lá fora. E, posso dizer? Isto tudo é muito difícil. Por isso aconteceu a versão estendida de Cissa e Gabriel. Ela foi um dos meus primeiros passos em busca desta mudança de rumo que eu dava não só para a minha vida pessoal como também profissional.

Isto tudo aconteceu de uma hora para outra? Não. Mas cada passo foi importante... E por esta razão estamos aqui, na metade de 2017 - com duas novas histórias na Amazon, após um longo período em que eu tentava não chamar nenhuma atenção para o meu 'lado' escritor.

Poder chegar agora e escrever sobre Recomeço e Contra Tempo é uma vitória em tantos sentidos da minha vida que nem sei por onde começar. Não é apenas sobre levar mais o meu trabalho a sério. Tudo bem, temos isto também... Mas é sobre dizer o que se passa na minha cabeça, mas também conversar com o leitor - tentar me conectar com ele.


O conto de Recomeço, ao ser publicado, era o ponta pé inicial que eu precisava para esta minha nova fase. O título (e o tema sobre segundas chances) não foi por acaso. Pois, com ele, pude pegar o que vivo, e o que vejo, e o que penso, e o que eu busco, e juntar tudo para que aquelas palavras se tornassem histórias. Ali não temos apenas a narrativa de um casal... Temos a oportunidade de falar sobre padrões sociais ridículos, e como isto me incomoda e como nada destas bobagens deveriam importar. Não de uma forma pretensiosa, sabe? Acho que nem teria 'cacife' para isto. Mas uma conversa. Uma tentativa de fazer um mundo cada vez mais feio parecer um pouco melhor, uma página por vez.

O mesmo vale para Contra Tempo. Como eu disse várias vezes no Twitter, e até no meu canal, esta é a novela que eu mais tenho orgulho de ter escrito em um longo período de tempo. Não só pelas questões sociais, como o racismo, a homofobia e até mesmo a gordofobia. Mas pela representatividade - algo que assinalei de vez como um objetivo dos meus trabalhos - e de como Nicolas, o protagonista da narrativa, talvez seja um dos personagens que mais se assemelham a mim. E, assim como ele, eu percebi que o medo não me levaria a lugar algum - e sim, somente a coragem.

São por todos estes motivos que eu estou aqui, sentado em frente ao PC e escrevendo este post. Era para ser apenas um post para dizer ''oi, eu ainda estou vivo'' e apresentar minhas novas histórias. Mas, se eu precisava contar para vocês que esta é uma nova fase minha - onde estou levando muito a sério o meu trabalho, por menos séria que cada trama seja - eu precisava contextualizar vocês de todo o processo de mudança que eu vivi. Então, mil desculpas pelo sumiço. Por mais que tenha sido essencial, sei que fui um idiota por ter deixado tudo para trás e não avisado ninguém. Só que agora estou aqui, um passo de cada vez, tentando mudar e melhorar... E esperando, do fundo do meu coração, que cada um de vocês me acompanhem nesta longa jornada.

Um abraço em cada um que parou e leu este ''textão'' (rs)...